Mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, homens não devem abrir mão dos cuidados com sua saúde em relação a outras doenças. O diagnóstico precoce de câncer de próstata, por exemplo, é essencial para aumentar as chances de cura e adoção de tratamentos menos agressivos e mais eficazes
A consulta anual com o médico urologista faz parte de sua rotina? Essa pergunta foi feita para 265 homens pelo Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR). A resposta dada por 70% deles foi que não foram ao urologista em 2019. Nesse período em que o mundo vivencia a pandemia da Covid-19, algo que se fará presente também em 2021, pelo menos até que boa parte da população mundial esteja vacinada contra o novo coranavírus, o IUCR entende a importância de orientar a população masculina sobre a importância de colocar a consulta e exames de rotina com seu médico urologista em dia.
O objetivo do IUCR para 2021 é estimular na sociedade a reflexão sobre os cuidados com a saúde e a adoção de novos hábitos a partir de 2021, que valem para a vida toda. Dentre as medidas indicadas estão a manutenção anual da consulta ao médico urologista e dos exames que propiciam o diagnóstico precoce. “Em caso de um câncer de próstata, o paciente pode descobrir a doença cedo, o que reflete em aumento das chances de cura, permitindo tratamentos menos agressivos e mais assertivos”, destaca o cirurgião oncológico, Dr. Gustavo Cardoso Guimarães, nosso diretor e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Na contramão do diagnóstico precoce, por sua vez, a pesquisa realizada pelo IUCR sobre o conhecimento dos homens sobre os tipos de câncer que mais os acometem, mostrou que apesar de mais de 70% dos respondentes conhecerem alguém que teve algum tipo de câncer urológico apenas um terço vai ao médico anualmente 1.
“Conscientizar a população masculina sobre a necessidade de realizar a consulta anual com o urologista mesmo durante a pandemia do novo coronavírus é essencial para evitar que depois do controle da pandemia, não tenhamos, por exemplo, um aumento de diagnósticos em fase avançada do câncer de próstata”, Dr. Gustavo Guimarães.
E o que mais pode ser feito?
Além da consulta anual com o urologista, depois de eventuais excessos das celebrações de final de ano, recomenda-se adotar ou retomar uma rotina de alimentação saudável e de exercícios físico. Dentre as dicas estão consumir frutas e hortaliças, evitar o consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas, refrigerantes e outras bebidas açucaradas e ter a moderação como palavra-chave em relação à carne vermelha e alimentos calóricos e/ou gordurosos. Essa é a receita que deve ser adotada como hábito diário porque comprovadamente auxilia na prevenção do câncer.
De acordo com estudos, a dieta equilibrada é responsável por reduzir 35% das mortes globais por câncer, ressalta a Organização Mundial da Saúde (OMS)2. No mundo, de acordo com o levantamento Globocan 2018, da OMS, são registrados cerca de 18 milhões de novos casos de câncer por ano e 9,6 milhões de mortes2. A OMS recomenda a ingestão diária de pelo menos 400 gramas de frutas e hortaliças, o que equivale, aproximadamente, ao consumo diário de cinco porções desses alimentos. No Brasil, a estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam para 2021, 309.750 casos novos de doenças oncológicas em homens e 316.280, em mulheres3.
Sobre a importância da atividade física no combate ao câncer, Dr. Gustavo Guimarães cita, como exemplo, um estudo publicado em dezembro de 2019 por pesquisadores da Universidade de Bristol, da Inglaterra, na revista científica International Journal of Epidemiology, que reforça a associação entre atividade física e prevenção do câncer de próstata, o mais comum entre todos os tumores malignos que acometem os homens. Os epidemiologistas britânicos usaram material do UK Biobank, que reúne amostras biológicas que são utilizadas em linhas de pesquisa desde 2006. O projeto investigou a relação direta entre a predisposição genética e a exposição ambiental com o desenvolvimento de doenças4.
No trabalho, foi analisado o material genético de 7.844 casos de câncer de próstata e de mais de 61.106 casos-controle (indivíduos sem a doença)5. Ao analisar as variações na sequência de DNA de cada participante, observou-se quais eram relacionadas com a sua atividade física. Com isso, não se confiou apenas no que eles diziam sobre seus estilos de vida. A conclusão foi que os homens mais ativos tiveram 51% de redução de risco de desenvolvimento de câncer de próstata em comparação com os menos ativos. “O resultado reforçou evidências de trabalhos anteriores. As pesquisas já realizadas mostram que a idade ideal para a atividade física ser iniciada é entre a adolescência e idade adulta jovem. Mas claro que nunca é tarde para começar este bom hábito e colher benefícios. O estudo também revela que a redução de risco é geralmente maior quando adotada a atividade mais vigorosa, embora a moderada e leve também já sejam benéficas”, comenta.
Dr. Gustavo Guimarães explica que o impacto na redução de risco para câncer de próstata é potencializado quando a atividade física está associada a uma dieta equilibrada e redução de obesidade. “Quando a pessoa está acima do peso, com dieta pouco saudável e sedentária, há maior risco de anormalidades metabólicas e hormonais e de inflamação crônica, sendo este um cenário propício para o desenvolvimento do câncer”, reforça.
Referências bibliográficas
1 – Pesquisa IUCR – Câncer Masculino - https://www.iucr.com.br/post/pesquisa-de-opiniao-o-que-os-homens-sabem-sobre-o-cancer-masculino. Acesso em 29 dez 2020.
2 – World Health Organization (WHO). <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer>. Acesso em 29 dez 2020.
3 – Instituto Nacional de Câncer (INCA). < https://www.inca.gov.br/numeros-de-cancer>. Acesso em 29 dez 2020.
4 – UK Biobank. <https://www.ukbiobank.ac.uk/about-biobank-uk/>. Acesso em 29 dez j2020.
5 - Kazmi, N., Haycock, P., Tsilidis, K., Lynch, B. M., Truong, T.,Martin, R. M. (2019). Appraising causal relationships of dietary, nutritional and physical-activity exposures with overall and aggressive prostate cancer: two-sample Mendelian-randomization study based on 79 148 prostate-cancer cases and 61 106 controls. International Journal of Epidemiology.