Rastreamento populacional realizado em São Paulo identificou 251 casos de câncer de próstata. Os tumores de alto risco foram mais prevalentes entre os homens de origem étnica do leste da Ásia (72,7%) e os negros (63,3%). Trabalho publicado na International Brazilian Journal of Urology mostra também que houve um caso positivo de câncer para cada 38,9 homens rastreados e, para cada doença confirmada, são necessárias 2,1 biópsias
Estudo analisou os resultados de exames diagnósticos de 9.692 brasileiros que se inscreveram em um programa de prevenção e rastreamento de câncer de próstata adotado por um centro de referência em Oncologia de São Paulo. Foi observada que a incidência de tumores de alto risco variaram entre os grupos étnicos. Os tumores de alto risco foram mais prevalentes entre os asiáticos (amarelos - 72,7%), seguido pelos negros (63,3%). Esta foi uma das conclusões do trabalho publicado na última edição da revista científica International Brazilian Journal of Urology (n.3, 2021).
Diante da miscigenação da população brasileira e da necessidade de busca de evidências científicas que reforcem o real impacto das estratégias de rastreamento populacional focadas em diagnóstico precoce e redução de mortalidade por câncer de próstata, os autores do estudo “Prostate Cancer Screening in Brazil: a single center experience in the public health system” descrevem o perfil epidemiológico da doença, levando em conta características geográficas e econômicas determinadas por questões migratórias e de imigração.
O programa de prevenção de câncer de próstata, iniciado em 2013, compreendeu o exame de nível de PSA total e exame de toque retal, ambos durante a primeira consulta. Foram realizados exames complementares, como ultrassonografia e biópsia, em casos suspeitos de câncer. Entre os pacientes inscritos, 251 (2,6%) foram diagnosticados com câncer de próstata. Com base nesse número, concluiu-se o diagnóstico de um caso de câncer para cada 38,9 homens rastreados e, para cada doença confirmada foram necessárias 2,1 biópsias.
Entre os 251 pacientes diagnosticados com câncer de próstata no programa, 70 casos (27,9%) foram classificados como tumores de baixo risco, 74 (29,5%) como de risco intermediário e 107 (42,6%) como doença de alto risco. Com base no estágio patológico, 218 casos (87%) foram classificados como doenças localizadas e apenas 11 (4,3%) pacientes foram diagnosticados com doença metastática. Pela estratificação D´Amico de grupo de risco, os 251 casos de câncer foram classificados como de baixo risco (70 – 27,9%), risco intermediário (74 – 29,5%) e de alto risco (107 – 42,6%).
Na amostra, 6.274 (64,7%) eram homens brancos, 2.246 (23,2%) pardos, 610 (6,3%) negros e 561 (5,8%) amarelos (Leste Asiático). “Notamos uma maior incidência de doença mais agressiva nessa população. Diante da imensa população brasileira miscigenada e considerando a grande proporção de câncer de alto risco, fica clara a importância de se informar pacientes e profissionais de saúde sobre as particularidades dos casos epidemiológicos do Brasil. A boa notícia é que o rastreamento se mostrou custo-efetivo”, ressalta o autor principal do estudo, Dr. Renato Oliveira, cirurgião oncológico do IUCR - Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica e da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Do total de pacientes diagnosticados 205 (81,7) foram acompanhados pela equipe médica da instituição, sendo que 93 (45,4%) foram submetidos à prostatectomia radical/cirurgia de retirada da próstata, 23 (11,2%) realizaram radioterapia, 45 (22%) realizaram radioterapia e terapia hormonal, 15 (7,3%) realizaram exclusivamente terapia de privação de androgênio (castração hormonal), 27 (13,2%) tinham perfil de encaminhamento para vigilância ativa e 2 (0,9%) foram gerenciados com a espera vigilante.
“Em vista da redução da incidência de casos mais avançados e da redução da mortalidade, o emprego de política de rastreamento para o câncer de próstata mostrou sua vantagem do ponto de vista de custo-efetividade e de custo-utilidade, demonstrando o benefício de sua adoção no contexto da saúde pública brasileira, quando comparado à população não rastreada”, destaca Dr. Renato Oliveira.
Por sua vez, segundo ele, mais estudos randomizados, controlados e mais abrangentes devem ser realizados para melhor embasamento na tomada de decisão sobre os métodos de rastreamento e tratamento de pacientes com câncer de próstata.