Infecções sexualmente transmissíveis podem causar câncer?

A relação entre infecções sexualmente transmissíveis (IST) e o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer é um fato comprovado pela ciência.  Em minha prática clínica, vejo casos de pacientes que poderiam ter evitado determinados tipos de câncer com adoção de medidas simples de prevenção.

Segundo relatório da American Association for Cancer Research (AACR), aproximadamente 13% de todos os cânceres no mundo são causados por patógenos como bactérias, vírus e parasitas. Mais impressionante ainda: 90% desses casos estão relacionados a apenas quatro micro-organismos: HPV, hepatites B e C, e H. pylori.  Desses quatro agentes, o HPV e as hepatites B e C, são IST.

Infecções sexualmente transmissíveis: o vilão mais conhecido

O Papilomavírus Humano (HPV) é, sem dúvida, a infecção sexualmente transmissível mais associada ao câncer. Transmitido pelo contato pele-a-pele ou pele-mucosa durante a atividade sexual, este vírus pode causar cânceres de:

• Colo de útero

• Pênis

• Ânus

• Faringe e orofaringe

• Cavidade oral e amígdalas

• Vulva e vagina

• Laringe

• Pele não melanoma

A boa notícia é que existe prevenção eficaz. O SUS oferece a vacina quadrivalente para meninos e meninas entre 9 e 14 anos, além de grupos prioritários  de até 45 anos, como pessoas vivendo com HIV, transplantados, pacientes oncológicos e vítimas de abuso sexual. Já a rede privada disponibiliza a vacina nonavalente para homens e mulheres de 9 a 45 anos.

 

Impacto indireto, mas significativo

O HIV – o  vírus da imunodeficiência humana/Aids –  não causa câncer diretamente, mas ao enfraquecer nosso sistema imunológico, abre caminho para outras infecções que podem levar ao desenvolvimento de tumores malignos. Pacientes com HIV têm maior risco de desenvolver sarcomas, linfomas, câncer de colo de útero, câncer anal e tumores de cabeça e pescoço.

A prevenção continua sendo fundamental: uso de preservativos, não compartilhamento de agulhas, e cuidados durante transfusões sanguíneas.

 

Outras IST e bactérias de risco

HTLV (Vírus Linfotrópico de Células T Humanas)

Pertencente à mesma família do HIV, pode causar leucemia e outros tipos de câncer, além de problemas neurológicos. A transmissão ocorre principalmente por contato sexual desprotegido.

Herpesvírus Humano Tipo 8 (HHV-8)

Causa infecções que podem permanecer latentes e se reativar quando o sistema imunológico está debilitado. É fator de risco para o sarcoma de Kaposi, um tipo raro de câncer de pele que afeta as camadas internas dos vasos sanguíneos. A transmissão do HHV-8 acontece, principalmente, por contato sexual e saliva

Hepatites B e C

A transmissão dos vírus das hepatites acontece por meio do contato com sangue, sêmen ou fluidos corporais.  O uso de preservativo diminui o risco de contágio durante as relações sexuais. Ambas podem evoluir para câncer de fígado. A hepatite B tem vacina disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Para a hepatite C não há vacina.

H. pylori

Embora não seja uma IST, o Helicobacter pylori (H.pylori) merece destaque por ser um dos principais causadores de câncer gástrico. Essa bactéria é contraída pelo consumo de alimentos mal higienizados ou de água contaminada, sendo facilmente prevenível com cuidados básicos de higiene.

É possível prevenir

Entre as medidas que podem diminuir o risco de cânceres relacionados a IST estão:

• Vacinação: mantenha seu calendário vacinal em dia, especialmente contra HPV e hepatite B.

• Uso de preservativos: fundamental em todas as relações sexuais.

• Higiene adequada: lave as mãos, higienize alimentos, não compartilhe objetos pessoais.

• Exames regulares: consulte seu médico regularmente para check-ups preventivos

Dessa forma, muitos dos cânceres relacionados a infecções são evitáveis. O conhecimento é nossa primeira linha de defesa. Conversar abertamente sobre saúde sexual, buscar informações confiáveis e adotar medidas preventivas pode fazer a diferença entre a saúde e a doença.

Convido você a refletir sobre seus cuidados pessoais e a compartilhar essas informações com pessoas próximas. A prevenção é sempre o melhor tratamento.