Vacina contra câncer de rim. O que você precisa saber.
- IUCR
- 28 de out.
- 3 min de leitura
Pesquisadores criaram uma vacina contra câncer de rim personalizada para pacientes com doença avançada, que diminui o risco de recorrência que é elevado. Apesar da vacina ainda precisar de mais estudos, os resultados iniciais foram muito promissores

Boa notícia para pacientes com câncer de rim em estágio avançado. Um estudo liderado por pesquisadores do Instituto de Câncer Dana-Farber, nos Estados Unidos, apresentou resultados promissores de uma vacina contra câncer de rim em pacientes com a doença em estágio avançado (estágios 3 e 4). O artigo A neoantigen vaccine generates antitumour immunity in renal cell carcinoma (Uma vacina neoantígena gera imunidade antitumoral em carcinoma de células renais) foi publicado na Nature, uma das mais conceituadas e relevantes revistas do meio científico, em 5 de fevereiro de 2025.
A vacina foi desenvolvida para fazer com que o sistema imunológico do corpo reconheça e elimine células tumorais remanescentes depois da cirurgia para remoção do tumor, seguida ou não de imunoterapia, que é o atual tratamento padrão do câncer de rim. Até o corte de dados ( 34,7 meses) do estudo, todos os pacientes participantes permaneciam livres de câncer.
Para se ter uma ideia da importância desses resultados, basta lembrar que o atual tratamento padrão de câncer de rim diminui o risco de reincidência da doença. Mesmo assim, o risco ainda é considerável com recorrência do câncer em cerca de dois terços dos pacientes e quando isso acontece, as opções de tratamento são limitadas.
Como foi criada a vacina contra o câncer de rim
No estudo, os pesquisadores trataram nove pacientes com carcinoma renal de células claras (tipo mais comum de câncer renal), com a vacina desenvolvida para fazer o sistema imunológico do corpo reconhecer e destruir o câncer, diminuindo as chances de recorrência após cirurgia ou cirurgia e imunoterapia. Do grupo de pacientes que participou da pesquisa, sete apresentavam câncer renal avançado e dois câncer renal metastático (quando o câncer já avançou para outras regiões do organismo).
Os pesquisadores administraram a nova vacina nos nove pacientes após a cirurgia para retirada do tumor, sendo que cinco deles receberam também imunoterapia. As vacinas foram personalizadas, ou seja, desenvolvidas para reconhecer o câncer de cada paciente de maneira individual. Para isso, a partir de tecido do tumor coletado durante a cirurgia, os cientistas extraíram as características das células cancerígenas – as chamadas neoantígenos –, que são diferentes das células saudáveis.
Explicando melhor: os neoantígenos são pequenos fragmentos de proteínas mutantes que existem somente no câncer. Para selecionar quais neoantígenos seriam usados na vacina, os cientistas contaram com algoritmos preditivos, que ajudaram a saber quais deles tinham mais probabilidade de induzir uma resposta imune. Dessa forma, cada paciente teve a vacina desenvolvida de acordo com o material genético de seu tumor.
Foram oito anos de estudo. Ao iniciar, os cientistas já tinham conhecimento que vacinas poderiam ser eficazes para tratamento de melanoma, um tipo de câncer de pele agressivo. Esse potencial já tinha sido demonstrado em alguns estudos. Mas diferentemente do câncer de rim, o melanoma apresenta mais mutações, ou seja, mais alvos para a fabricação da vacina. No caso do câncer de rim, era preciso descobrir como a vacina poderia influenciar a resposta imunológica nesse tumor.
Resultados promissores da vacina contra o câncer de rim
A vacina foi administrada em uma série de doses iniciais e dois reforços. Não houve qualquer efeito colateral mais grave. Alguns pacientes apresentaram pequena reação no local da aplicação e outros apenas reações gripais. Todos os nove pacientes do estudo apresentaram uma resposta imune anticâncer bem-sucedida
Os pacientes vacinados tiveram uma resposta imune em até três semanas. Os estudos revelaram que as células T induzidas pela vacina eram ativas contras as células de câncer do próprio paciente. Essas células protetoras aumentaram em média 166 vezes e permaneceram no organismo em níveis elevados por até três anos.
O estudo foi um ensaio clínico de fase 1, que são aqueles projetados para estabelecer como os pacientes respondem à terapia antes dos cientistas realizarem testes adicionais com um número maior de participantes. Apesar dos resultados ainda precisarem ser testados em estudos maiores, as descobertas iniciais, certamente, apontaram a viabilidade de uma vacina antitumoral para pacientes com câncer renal com alto risco de recorrência.
Para ler o artigo, acesse:
Braun, DA, Moranzoni, G., Chea, V. et al. Uma vacina neoantígena gera imunidade antitumoral em carcinoma de células renais. Nature 639 , 474–482 (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-024-08507-5



